terça-feira, setembro 15, 2015

Brumas, Dores e Sorrisos

As rubras cores

E as pálidas luzes de um corredor

Não representam o que és para mim, com o teu sorriso de Sol nascente,

A alegria de tuas mãos inquietas e os teus cabelos

Eternamente cheirosos, no fundo

Mais fundo e doce

Do meu coração...


sexta-feira, agosto 19, 2011

Exercício (ou do desenferrujar aos poucos)¹



Não sei se encontrarei, de novo, o fio da minha sensibilidade. A tênue trama diluída em meus braços eleva-me além dos horizontes que ousei sonhar. Vou mais alto. Detalho cada traço do caminho na tela da memória, guardando para mim o seu cantar inolvidável, aquele que jamais sonhei. Então, cometeremos, você e eu, o assassinato das horas mortas, limitados pelo tempo, que não volta mais.






¹ Produzido intuitivamente, sem detença, sem pausa, desataviadamente, derramando as palavras no papel, ao som de uma música suave. Só para desenferrujar, enquanto procuro a alma oculta que habita na, e comanda, a máquina.







sexta-feira, julho 15, 2011

Uma Breve Visita

Faz tempo que não venho por aqui. E nem sei se esta volta prenuncia algo mais duradouro. Talvez sejam só algumas, estas, linhas. Talvez algo mais. Não quero me preocupar com isso. Não sinto também vontade de contar tudo o que aconteceu no interregno em que estive longe deste lugar, e não porque foram coisas ruins ou tristes ou insignificantes. Houve, sim, coisas ruins, tristes, insignificantes. No entanto, a grandeza dos acontecimentos supera tudo isso. Mas não quero falar. Continuarei sentindo tudo aqui, egoisticamente. Aliás, não. Aqui, no fundo do Eu.

Se alguém vir essas linhas, dê um sinal. Seria bom encontrar alguém, novo ou das antigas, nesta terra distante.

Abraços.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Resto e Descuido

"Isso aqui é um depósito dos restos. Às vezes, vem só resto, às vezes, vem também descuido. Resto e descuido." (Estamira)


Minha memória é um depósito de restos. Emergem do calor da minha fornalha neuronal restos, muitas vezes. Mas, às vezes, vem também descuido. Resto e descuido. Resíduos de pensamentos sempiternamente iguais, que busco alterar, demolindo as idéias prontas e renovando meu repertório de respostas. Importante aprender a crescer.

Vislumbro a montanha de resíduos tóxicos que acumulei em meu aterro íntimo e, no momento, dedico-me a realizar a separação dos materiais. Há muito que renovar. Muito a imaginar. Muito a criar. Por isso, estou tentando um ângulo perceptivo diferente. Não quero acumular mais lixo.

Estou criando tanques próprios para cada corpo e remetê-los-ei à usina que comecei a construir e estará pronta, em breve. Lá, espero que eles recebam o tratamento adequado e, assim, eu possa retirar de sua intimidade elementos realmente novos, porque arranjados ineditamente.

Certa feita, li um dramaturgo soteropolitano escrever que muitos afetos são como restos de LSD na corrente sanguínea. (Mas, reconsideremos o sentido de afeto, antes que alguma mente incauta e açodada possa imaginar que os há apenas de um tipo. Lembremos que as relações são estabelecidas com base nos afetos existentes entre um lado e outro do processo de conhecer. Ser cognoscente e objeto afetam-se, mutuamente. E isso vale para as idéias e os mortais que as recolhem; as pesquisas científicas e os cientistas; as teses e seus autores; os livros, os escritores e leitores; uma máquina de costura e o alfaiate; as cinzas do cachimbo e sua última baforada suspensa no ar, enquanto o fumante passeia o seu olhar pelo fumo no espaço. Tudo isso é afeto. E também tudo o mais.) De repente, esses restos esquecidos, realizando o seu périplo sanguíneo, aportam no SNC e este remete ao corpo e à mente todas as suas impressões correlacionadas às imagens do pretérito, que ora voltam a sacudir as tumbas mal dissimuladas do cemitério da memória. Num balé psicodélico, os mortos voltam.

É nesse anfiteatro que se forma que revejo meus mortos e as roupas que lhes vesti. As coroas florais que lhes dei. Os epitáfios que redigi em sua honra, ou desonra. Muitos textos rasgados, cujo sangue do próprio anonimato repousam nas palmas das minhas mãos indolentes. Muitos perdões que não cheguei a pedir. Muitos títulos que não conquistei porque não quis. Muitos zumbis a rosnar os diversos nomes que revesti, vida afora. Muitos livros que não li. (Como pude criar tudo isso?!?)

Há algumas gravatas que posso arrumar, como a que ajeito no cadáver que tropeça na calçada e me olha, fundamente. Há livros que posso publicar. Os meio-fios da calçada distante de minha infância, em que sentava para observar os transeuntes, eu os posso pintar. O cabelo loiro de minha namoradinha de seis anos a solicitar os meus dedos de mesma idade, que tornam a acariciá-los. Os contos de minha puberdade, natimortos em 1983. A nota vermelha no caderno de Matemática banhada com minhas lágrimas vaidosas e assustadas, na terceira série. A minha imagem bonita no espelho e eternamente feia nas fotos que detesto. Meus alunos que sempre irei amar. Aquele que orienta meus passos.


Às vezes resto. Às vezes descuido. Resto e descuido.

sábado, dezembro 06, 2008

Um Pouco Sobre Mim - Um Pouco Sobre A Morte - 2

Continuando as lições do meu processo educativo de 2008, a Morte freqüentou a nossa casa, mais uma vez. Nessa oportunidade, minha avó foi o tema da aula. Faleceu - ou desencarnou, direi eu, espírita - no 02 de dezembro último. Não tivemos uma vivência de proximidade. Questões familiares. Mas sempre gostei dela. Era (?) tão quietinha...! De poucas, raras, palavras. Não convivíamos, a não ser raramente. Nem agora, no momento de sua morte. Os sentimentos, que nada tem de desespero, susto ou insurreição contra o inevitável, ainda não os compreendo bem. Mas compreenderei, sei disso.
No entanto, é estranho tão perto, consagüineamente, termos sido tão distantes.
Nos veremos para conversar sobre isso, um dia. Talvez breve, talvez longinquamente.

Essencial

É importante ter poucas certezas. Responder pouco, perguntar muito, sempre e mais. É o essencial. Encher a cabeça de interrogações e, sofregamente, buscar solucioná-las, uma a uma. Fundamental, para mim, é questionar.

Essencial, pensar, amar e sentir.

terça-feira, novembro 11, 2008

Sobre Crocodilos e Pessoas

“Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado.” (Winston Churchill)


Eu acrescentaria à frase de Sir Winston Churchill a idéia de alimentar o referido réptil para um dia ter a oportunidade de transformá-lo num belíssimo sapato, só para ter o prazer de pisar nele, ou de convertê-lo numa bolsa, mostrando ao bicho o quanto ele é “vacilão”. Mas aí eu teria que alterar a definição inicial, porque um apaziguador não faria isso. No entanto, um apaziguador não é um sujeito inativo. Ele age. Principalmente quando quer pacificar a consciência. Nesse momento, porém, nem sempre é bem visto pelos demais. Sobretudo por aqueles acostumados com suas posturas anteriores, muitos deles, indivíduos que o atingiram em cheio em seus comezinhos direitos. Atualmente, sei bem o que é isso. Decidi não alimentar mais os meus crocodilos. Uma reptiliana hostilidade era o mínimo que poderia deles esperar. Paciência.
Resolvi por ordem na casa, finalmente. Estou dissipando a cortina de fumaça de comodismo e inatividade com que encobri problemas inadiáveis e, como era de se esperar, comecei a enfrentar dificuldades. As pessoas não gostam de gente decidida, gostam dos “bonzinhos”, dos políticos da boa vizinhança. Dos que calam para não incomodar, dos que possuem ouvidos moucos, dos que nada vêem. Enquanto ficamos no nosso canto, aceitando tudo e permitindo que as ações alheias direcionem a nossa existência, tudo são paz e tranqüilidade e as pessoas não nos agridem publicamente. Preferem zombar de nós às nossas costas, gozando o prazer fugidio dos crimes que a nossa inércia permitiu contra nós perpetrassem, ao mesmo tempo em que admiram, ironicamente, o nosso pacifismo mentiroso. Mas, basta começarmos a organizar as nossas coisas, assumindo atitudes novas e não compartilhando com esses algozes que elegemos velhos erros, não mais aceitando o seu “fogo amigo”, a buscar a satisfação de nossos direitos por eles aviltados no pretérito, que nos convertemos, no imaginário dessas criaturas egoístas, nas mais frias, cruéis, vingativas e grosseiras criaturas. (Como as pessoas gostam de facilidades!)
Decidi enfrentar adversários face a face. Não aceito mais ser direcionado por ninguém e nem me permitir esperar pelos outros para ser feliz. Estou caminhando e pronto. Cada um então que aprenda a lidar com o meu passo decidido e interprete os meus movimentos conforme os seus próprios humores e a sua percepção cinemática. Não tenho que me preocupar com isso. Devo, isso sim, permanecer atento às transformações que necessito fazer, sem perder contato com o Código de Ética ínsito em minha consciência, e que sempiternamente me dirige – e me educou a respeitar o próximo. Não o entendia totalmente. E nem o entendo ainda. Hoje, todavia, sei que respeitar o próximo é educá-lo, muitas vezes com firmeza. Ser bom não é ser conivente com o desrespeito, com a prepotência, a soberba, a falsidade, a ingratidão, a venalidade, o comodismo, o utilitarismo, a pusilanimidade, a manipulação e tantos outros equívocos que somos passíveis de cometer, por negligência, imperícia e imprudência. Mas que são cometidos por muita gente movida pela indolência, essa violenta insensibilidade moral que caracteriza os ensimesmados sistemáticos e vitimistas.


Mesmo assim, de jeito nenhum estou disposto a usar sapatos e bolsas feitos com o couro dos incautos que se imaginam espertos.
Ser bom é, também, ser misericordiosamente austero.

domingo, novembro 02, 2008

Dia D

É madrugada. Mas hoje será o dia em que tomarei uma das decisões mais difíceis de toda a minha vida - que não tem a ver com o post anterior. Será doloroso. No entanto, o problema exige solução grave e não posso mais recuar. Fiz o que pude. Tentei conscientizar uma das pessoas que mais amo na vida sobre a sua postura inadequada, que acabaria por causar uma grave ruptura entre nós. Mas, ela não quis. Desconsiderou tudo que vivemos. Os momentos de dificuldade. Os de companheirismo. As coisas que lhe ensinei sobre valores e posturas auto-preservativas. Os nossos diálogos sempiternos. Preferiu rasgar o protocolo. Roer unilaternalmente a corda que nos imanta. É triste, mas devo respeitar sua decisão. Respeitar e seguir em frente. Resolver de vez a retirada de algumas espículas persistentes que o meu descaso travestido de amor paternal não quis pontualmente arrancar. Vai ser doído. Muito doído. Nunca mais serei o mesmo.
Todavia, o meu amor é eterno.
PS: Ninguém cria um bebê para vê-lo, mais tarde, se matar, gratuitamente. Eu não criei.